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A França pretende (pretendeu?) criar uma lista que proíba determinados cidadãos de participarem em manifestações, tendo como critério os seus comportamentos em anteriores protestos, à semelhança do que sucede no futebol com as suas "listas de hooligans". O problema é que o "Estádio" não é a Rua, pois o desporto nunca foi expressivamente relevante para a Luta Política, para a Reivindicação de Direitos Cívicos. Neste nosso tempo, como noutros, foi sempre o Grito da Rua, e não o sussurro do eleitor, a decidir o Relevante (ex: Direitos Laborais, Direitos Cívicos, Políticos, etc).
Um carro incendiado, uma montra partida, valem muito menos que o Direito consagrado ao Cidadão de expressar pública e livremente a sua Indignação cabendo, apenas, ao Estado, Vigiar e Punir quem a desvirtua propositadamente. Contudo, jamais, em nome de uma qualquer legitimidade (Ordem, Segurança) pode o Estado limitar Direitos Cívicos Fundadores dos Regimes Democráticos. Em vez disso, deve ser, isso sim, função do Estado garantir a segurança de quem protesta, algo completamente distinto.

 


Sejamos, por favor, francos. A Justiça não é mais que o uso da Violência (do Estado, ou do Individuo) em nome de um Bem, de um Ideal, na maioria das vezes, vago (ex: "guerras justas"). A Violência é o último reduto que cada um tem de garantir a sua integridade física e moral, representando o Estado, não raramente, ao longo da história, uma das mais insidiosa ameaças (em que estrelas está escrito que o Estado é sempre uma "pessoa de bem"? Vejam a Venezuela, Catalunha/Espanha, Portugal na "era" da troika, ou Chipre, quando o governo cipriota legitimou uma taxa de 40% sobre os depósitos bancários superiores a 100 mil euros).

 


Por exemplo, a Constituição Norte Americana assegura o Direito de cada cidadão possuir uma arma de fogo, tendo como preocupação primeira a sua protecção contra os abusos de um Estado monopolizador da Violência. Relembremos, que as Forças Armadas Estatais asseguram, numa ultima ratio, a sobrevivência do Estado à custa da vida de cada um de nós.(ex: guerra; impostos crescentes sobre o património, em alturas de "crise", sem a aprovação da população)
O Direito de Defesa, anglo-saxónico, contra o Estado, deriva da Bill of Rights, inglesa, elaborada após a Revolução de 1689, precipitada, esta, pela vontade Régia (o Estado sou Eu), de encerrar o Parlamento Britânico, Sede e Voz do Poder Comunitário.

 


Se porventura considerarem que faço uma apologia à violência, vejam como se construiram as Democracias. Todas elas edificadas sobre o justo uso da violência (ex: comemorarmos a 5 de Outubro, um Regime fundado num duplo assassinato).



O caminho para o Totalitarismo é paradigmático, não dependendo do lugar ou do tempo. Primeiro, indelevelmente, sem que ninguém note, limitam-se/suspendem-se liberdades, num determinado contexto social, ou político, que pareça, à população em geral, uma medida adequada (o ideal é fazer com que seja o próprio povo a exigir a restrição das suas liberdades), em nome de uma Ordem vaga, de uma Segurança diáfana. Esta passividade da sociedade perante a restrição das liberdades será tão mais evidente quanto mais o cidadão for exposto, educado no, e pelo, medo - ex: Pandemias, Terrorismo, Desemprego, Alerta disto, Alerta daquilo. Depois de abolidas, as Liberdades raramente são repostas, pois criar-se-ão sempre novos medos.



Chegará assim o dia em que a Liberdade será a Mãe de Todas as Ameaças.



Recordando o, muito adequado, poema de Bertold Brecht



Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não era miserável.

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho emprego
Também não me importei com isso.

Agora, levam-me
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa, agora, comigo.



7 comentários

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De Sarin a 30.01.2019 às 00:40

Brecht fala de defesa, não de ataque.


E sim, os cidadãos que violam os direitos dos outros - no caso, o direito à propriedade, assumem responsabilidade e são responsabilizados. A prevenção é uma excelente medida. Há risco de abuso, de falsas condenações?Como em tudo, mas o risco de abuso por parte dos vândalos - que abdicam de parte dos seus direitos ao violarem os dos outros - é bem maior. Numa comunidade há regras, as de segurança são elementares - não falamos de meninos que protestam com confettis, mas com pedras e correntes de metal.


E o desporto sempre foi manifestação política, ao ponto de terem proibido símbolos em nome do desporto. Jogos Olímpicos Berlim 1936 e Munique 1972, colagem do Estado Novo ao Futebol e aos seus símbolos, e tantos outros... Aliás, lembra-te que até os romanos transferiram os jogos olímpicos antigos para Roma em 80a.C. como prova da sua supremacia, e que os gregos abriram os jogos, até aí pan-helénicos, aos romanos porque a isso obrigados. Ainda hoje se contam medalhas para provar a superioridade deste ou daquele país.
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De Vorph "ги́ря" Valknut a 30.01.2019 às 11:51


Dois anos após os Jogos de Berlim, assistiu-se ao Anschluss e aos sudetas. Os Jogos Olímpicos de Berlim tiveram como propósito legitimar mundialmente um regime totalitário brutal, estratégia ainda adoptada por muitas tiranias/regimes não democráticos que pretendem, para os seus países/reinos, grandes celebrações desportivas - ex: Rússia, Qatar, etc


Aliás a "lógica" do desporto, mais concretamente do futebol, é semelhante, em estrutura, em "retórica", àquela da ideologia politica nacionalista/xenófoba - fazer do "outro" o adversário a abater, derrotar, chamando-lhe de cão, enfim desumanizando o "outro lado". Daí ser normal que, por hoje, de lá, e por cá, surjam dele esses novos "agitadores" xenófobos, como os "Venturas" e os seus "Chegas":


https://magg.pt/2018/10/11/entrevista-a-andre-ventura-o-casamento-e-uma-coisa-entre-homem-e-mulher/



A corja do FC. Porto, os Cães...


 https://www.youtube.com/watch?v=HDF8djbbvNc


https://www.youtube.com/watch?v=_9wOkQYxCZs



Tivesse Chamberlain, com a sua mania do diálogo,  continuado no poder e quantos milhões mais teriam morrido?


https://www.youtube.com/watch?v=SetNFqcayeA



 Não tivesse sido torpedeado o Lusitania, em 1915,  e quantos anos teria ainda durado a IGG, pois o povo americano defendia o diálogo com o Reich alemão, a não interferência nos assuntos "estrangeiros" dos países soberanos europeus.


Foi Churchill com toda a sua raiva, com toda a sua tempestade de fogo e aço que vergou a Alemanha e o povo alemão nazista:


https://www.youtube.com/watch?v=-0Tm5-xsjzQ



https://www.youtube.com/watch?v=fKBR0igDPfM
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De Sarin a 30.01.2019 às 11:53

Continuas a confundir reacção de defesa com acção de ataque.


Estás surdo :)
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De Vorph "ги́ря" Valknut a 30.01.2019 às 14:17

Olha o bombardeamento de Dresden....um crime contra a Humanidade, não tendo assim sido considerado porque quem largou as bombas de fósforo foram os bons.


Se a reacção fosse apenas de defesa, os Aliados tinham parado no Reno e no Oeder.
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De Sarin a 30.01.2019 às 14:38

Queres mesmo discutir a Segunda Guerra Mundial? Aqui, onde pretendemos falar do nosso Estado?


Não contes comigo.
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De Vorph "ги́ря" Valknut a 30.01.2019 às 14:43

Tu é que começaste em 1936. No meu texto tenho como referência o futuro....tal como Orwell
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De Sarin a 30.01.2019 às 14:48

Comecei na Grécia antiga, palco dos jogos onde dizes não haver lugar a manifestações políticas.


Há grande diferença entre indicar exemplos, e discutir esses exemplos e o seu contexto.

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