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Tem graça... Se há alguma coisa que não é de graça é o Estado. Nem sequer barato, é bem caro, por sinal.
O estado de graça é um estádio do exercício do poder. No Estado e em todos os estados dentro do Estado. O estado de graça não é o estado da piada, porque não é com piadas que se chega ao poder, mesmo que lá cheguem muitos palhaços. Como o Tiririca, mas isso é no Brasil onde o Estado até tem muitos Estados, e por isso é federal. Que não tem nada a ver com o feder, que por lá fede nos últimos tempos... Também não é o estado em que se encontrava Maria, quando um anjo lhe anunciou o estado interessante em que o Espírito Santo a deixara, antes de ser nome de banco e de nos ter feito a todos o que teria então ficado por fazer. Esse estado de graça, sem pecado nem mácula, não dá para chegar ao poder. Alma limpa não dá para agarrar as tarefas do Estado, mas é preciso um estado de alma que não valorize o que a suja. Todas as manchas sujas têm de estar todas bem escondidinhas ... nem que seja umas atrás das outras.
O estado de graça também não é por isso um estado da alma, por muitos estados de alma que possa deixar em estado de sítio. O estado de sítio é que não tem graça nenhuma, nem mesmo quando é declarado em estado de graça, o que às vezes, em estado de emergência, até acontece.
Mas o que é, afinal, o estado de graça?
O estado de graça é, como comecei por dizer, um estado no exercício do poder. Por isso um bom estado, um estado interessante, sem que seja o tal estado. É temporário, como tudo, afinal - não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe... Nem no Estado. É um período de benevolência, aquele espaço de tempo em que tudo o que está mal, foi feito pelos outros, e em que, mesmo sem fazer nada, tudo tem graça.
No exercíco do poder, especialmente quando conquistado no tal regime que é o pior, à excepção de todos os outros, saber gerir o estado de graça é mais que uma arte. Há gente capaz de o fazer magistralmente, guardando essa competência como verdadeiro segredo de Estado, porque é em cima do estado de graça que se constrói o verdadeiro poder, aquele que domina sobre a estrutura e que agarra numa só mão o aparelho de Estado, nome por que invariavelmente é conhecida a sala das máquinas do Estado. Quanto mais se prolongar o estado de graça, maior é o tempo de aconchego no poder. Sim, porque isto de chegar ao poder tem muito que se lhe diga. Não é chegar, sentar e ficar confortavelmente instalado, com tudo no seu sítio, ajustado à medida. Nada disso...
Repare-se como até para o próprio Estado Novo que, como se sabe, era um de todos os outros regimes da excepção que Churchill deixou famosa, foi importante o estado de graça. Na altura chamou-se-lhe Primavera, nome que estaria então certamente na moda... Que vinha, como continua a vir, de Paris, mas também de Praga. E durou pouco, depressa se voltou a fazer inverno. Daí que que a sala das máquinas tenha começado a deixar entrar água até rebentar, e cair de podre naquela madrugada de Abril!
Falais em censura, senhor, e só ocorre tal... aqui ninguém é censurado, apenas os anónimos ficam a aguardar, na esperança de que encontrem a sua cidadania - o artigo 6º da Declaração dos Direitos Humanos diz que "Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade jurídica." e a Constituição diz, no ponto 1 do artigo 26º, que "A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação. "
Manterem-se anónimos não é um direito, é apenas uma opção :)
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