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Descentralização do Estado

por Eduardo Louro, em 29.01.19

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O Estado é omnipresente, está em todo lado. Gosta mais do centro, é no centro, no Terreiro do Paço ou lá onde for, que brilha com mais esplendor. E é também aí que aquece mais. 

Como tem que estar em todo o lado, mas não quer sair do centro, depois de muito pensar, o Estado encontrou uma saída. Chamou-lhe descentralização!

Daí que descentralizar, ao contrário  do que a expressão encontrada poderá enganosamente sugerir, não seja exactamente sair ou abandonar o centro. É espalhar-se a partir do centro, é abrir os braços para chegar a todo os sítios. Mas funciona, a expressão, claro...

E funciona tão bem que está sempre na ordem do dia, sempre à mão para resolver uma reivindicação aqui, pagar aquele favor ali, apagar um conflito acolá... Até para acordos de regime dá, veja-se bem.

O Estado tem, em Portugal, vários mecanismos de descentralização. E só não tem mais porque há vinte anos, feitos há pouco, em referendo (ora aqui está o que ainda é o melhor exemplo de matéria referendável), os portugueses disseram não à regionalização, e evitaram que se criassem mais umas tantas de estruturas de poder, e de fontes de burocracia, para alimentar mais umas centenas de exemplares das insaciáveis clientelas partidárias.

Com a organizaçao admnistrativa do Estado a contemplar as duas regiões autónomas que a geografia do país justifica, tenho sempre grande dificuldade em encontrar justificação para dividir em regiões administrativas um território com menos 90 mil quilómetros quadrados, de um país com as mais antigas fronteiras da Europa, que é o paradigma do Estado-Nação.

Para além do poder central, e dos poderes regionais nos dois arquipélagos atlânticos, o Estado dispõe de órgãos de poder local, as autarquias distribuídas pelos actuais 308 concelhos, praticamente o mesmo número que Passos Manuel deixou, em 1836, e 3091 freguesias, as que acabaram a pagar as favas, bem cozinhadas pelos partidos do poder, da suposta reforma admnistrativa de 2013, para troika ver ... Mais um faz de conta, de braço dado com o engana-me que eu gosto, o par que a cada pé de passada encontramos em cada esquina do país.

O Estado central não olha nos olhos o poder local; é sempre de cima para baixo. Usa e deita fora, conforme lhe dá jeito. E no entanto é no poder local que o Estado realiza boa parte das suas funções... Como é no poder local que se revela o que de melhor os cidadãos têm a dar à sua comunidade ... Mas também o pior do lado mais feio do poder, e da mais abusiva manipulação da democracia, em flagrante violação dos seus  mais elementares princípios e na subversão das suas mais inquestionáveis e fundamentais regras.

 


12 comentários

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De Sarin a 29.01.2019 às 19:33

Sou uma adepta do poder local. Não percebo as Regiões Administrativas no Ambiente, na Saúde, nos Transportes, enfim, no tal estado descentralizado a partir do terreiro, escravos que são, pobrezitos...


Se os concelhos são as regiões naturais e naturalmente estabelecem pontes com os concelhos vizinhos, com que fins as Direcções Regionais e afins? Seria para alguns muito arriscado, dividir assim o orçamento ao Estado... e pronto, o resto fica para um postal ;)
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De Eduardo Louro a 29.01.2019 às 23:32

Sim. O tema é praticamente inesgotável.
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De Sarin a 30.01.2019 às 00:00

E irrevogável, acrescentaria. Temos o poder local que tínhamos há 40 anos, os círculos eleitorais só servem para conseguir meter deputados que em listas nacionais ficariam na rua e a regionalização - que não tem que ter mamões, perdão, estruturas intermédias - está tal como em 1976. Talvez pior...
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De cheia a 29.01.2019 às 22:22

As Freguesias, com as competências atuais, podem acabar, porque pouco ou nada fazem. Os Municípios podem ser reduzidos para metade ou menos.
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De P. P. a 29.01.2019 às 23:29

Concordo.
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De cheia a 30.01.2019 às 19:52

Precisamos de um Estado que funcione. Em que os funcionários, tanto do Estado, como Municipais, não se atrapalhem uns aos outros. Mais produtividade, melhores vencimentos. 
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De Eduardo Louro a 30.01.2019 às 22:56

Que não se atrapalhem uns aos outros, nem atrapalhem os outros. Como tantas vezes acontece. 
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De Eduardo Louro a 29.01.2019 às 23:33

Tanbém me parece.
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De Sarin a 30.01.2019 às 00:04

Pois eu acabava com as direcções regionais e afins, e colocava nos municípios a gestão daquilo que agora compete a tais estruturas. O Governo Central em articulação directa com o governo local. E com menos dinheiro para malbaratar, obrigado a cedê-lo aos municípios ondenós, cidadãos, o poderíamos vigiar de mais perto.
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De Eduardo Louro a 30.01.2019 às 23:03

Não sei se, como as coisas são, o forrobodó não seria ainda maior...
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De Sarin a 30.01.2019 às 23:07

Acho que quanto mais próximo mais fácil o escrutínio. E maior a articulação entre os serviços.

O panorama geral seria competência das Secretarias de Estado, e acabava-se com aqyela mina a que chamam associações intermunicipais...
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De P. P. a 29.01.2019 às 23:28

Quanta verdade!

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